Movimento
gay lança manifesto contra a “homofobia evangélica” e acusa: “Querem implantar
Inquisição Evangélica no Brasil”
Um manifesto divulgado no blog “Missão Pró-LGBT” mostra a articulação que entidades
ligadas ao ativismo homossexual estão organizando para aumentar os protestos
contra os evangélicos no país.
No texto publicado a organização afirma
que “o principal objetivo desse manifesto é se focalizar na homofobia dentro do
contexto evangélico brasileiro dos últimos anos”. As críticas aos evangélicos
se estendem ao que o texto define como “interpretações literais da Bíblia por grupos fundamentalistas evangélicos
para impor o seu estilo de vida religioso à toda sociedade civil brasileira”.
O manifesto foi escrito por um ativista
homossexual que embora não se identifique, apresenta-se como cristão evangélico
com “formação teológica em um seminário batista”, e que afirma que a
constatação de que o “Brasil é o país que mais mata gays no mundo” foi a
motivação para a iniciativa de organizar a “Missão Pró-LGBT”.
As criticas mencionam o pastor Silas Malafaia,
por sua postura polêmica na crítica aos ativistas homossexuais: “Enquanto
afirmam: “amamos os gays”, pastores midiáticos famosos conclamam multidões para
“baixar o porrete em cima dos gays, para esses caras aprender” (Sr Silas
Maldafala) -sic- em plena rede de TV nacional. Enquanto dizem: “amamos os gays,
dizem que tem o direito de xingá-los de bichas, veados, imorais, promíscuos,
pedófilos, aliciadores de menores, traficantes e de bater nos gays ou até matar
sem receber pena aumentada por discriminação”.
O texto não se restringe a criticar os
princípios cristãos contrários à homossexualidade, mas também aponta a teologia
da prosperidade como uma das características hostis da igreja evangélica no
Brasil: “Em seus cultos, o principal a ser anunciado não são os valores. O que
mais é destacado são as “conquistas”, os “milagres”, as “bênçãos”, os carros e
casas novos, as “curas”, e na grande maioria das vezes não se vêem ser pregados
valores como amor, bondade, tolerância, misericórdia, altruísmo, justiça”.
No âmbito político, a atuação dos
parlamentares da bancada evangélica é criticada severamente pelo manifesto, que
acusa deputados e senadores cristãos de quererem implantar a “Inquisição
Evangélica”. Segundo o texto, a suposta inquisição estaria sendo “implantada
não por papas medievais, mas pela ‘moderna’ ‘bancada evangélica’, que querem se
utilizar dos recursos do Estado para fazer sua evangelização e
transformar o Estado num Instrumento de Salvação Compulsória, garantindo
assim que todos os brasileiros tenham a ‘salvação’ da alma ‘melhor assegurada’
– longe dos gays”.
Confira abaixo a íntegra do “Manifesto
contra a homofobia evangélica”:
MANIFESTO CONTRA A
HOMOFOBIA EVANGÉLICA
Porque tanta homofobia no
contexto evangélico brasileiro?
O principal objetivo
desse manifesto é se focalizar na homofobia dentro do contexto evangélico
brasileiro dos últimos anos. Apesar de reconhecer a importância de se falar
também na homofobia dentro do contexto da Igreja Católica. Mas os principais
motivos para não entrar nesse assunto agora é que a própria essência da teologia
católica a respeito da sexualidade está estagnada no tempo a “mil anos”! Então,
como iniciar um diálogo sensato sobre a homossexualidade com uma teologia que
considera o sexo exclusivamente para a reprodução, proíbe a utilização de
camisinha aos seus fiéis, não aceita o divórcio e exalta o celibato como ápice
da piedade e santidade?Por outro lado, a
teologia protestante ou evangélica, apresenta-se “um pouco” mais aberta à
discussão. Nela há possibilidade de questionamento, apesar de pouca. Esse é um
dos motivos pelo qual restringi a falar especificamente da teologia e igreja
evangélica. Não só por isso, mas principalmente porque me sinto mais a vontade,
sendo cristão evangélico, estudioso da Palavra e ter minha formação em teologia
em um seminário batista; O tema da homofobia me convocou especialmente por ser
gay e conviver com bullying’s e violências homofóbicas diariamente há anos.
Além disso, a pesquisa feita na USP, pela Fundação Perseu Abramo e coordenada
pelo professor Gustavo Venturi em 2009, mostra que os evangélicos são os
religiosos mais homofóbicos no Brasil. Entre os religiosos que têm tendência a
comportamentos homofóbicos, os evangélicos lideram o ranking com 31%, contra
24% dos católicos, 15% dos praticantes do candomblé e 10% dos kardecistas. Diante de tal violência
em nome de Deus, resolvi abordar os dois temas ao mesmo tempo: homofobia e a
igreja evangélica, ou como prefiro chamar: “homofobia cristã evangélica”, que
atinge não só os gays cristãos, mas à sociedade em geral. Resolvi utilizar esse
termo especificamente, porque acho mais apropriado, uma vez que se verifica
entre os religiosos, uma particularidade na homofobia. Poderia se dizer que
homofobia cristã evangélica nada mais é que a utilização de interpretações
literais da Bíblia por grupos fundamentalistas evangélicos para impor o seu
estilo de vida religioso à toda sociedade civil brasileira. Ou seja, alguns
líderes oportunistas querem impor à sociedade um jugo que nem os próprios
cristãos conseguem carregar, como os próprios fariseus e religiosos faziam nos
tempos de Jesus, e que Jesus combatia veemente. Me espanto sempre com a
homofobia no Brasil a cada vez que vejo e revejo reportagens e noticias sobre
violências contra homossexuais na mídia, quando ouço muito mais fatos através
de amigos, quando fico sabendo que o Brasil é o país que mais mata gays no
mundo e principalmente quando eu mesmo sofro “na pele” com o preconceito.
Preconceito que nos atos mais sutis de sua manifestação, são por vezes os mais
dolorosos: são aqueles que quando pessoas especiais de repente mudam
completamente sua relação com você pelo simples fato de tomar conhecimento de
sua orientação sexual, o que ocorre principalmente entre os “irmãos”
evangélicos. Como ultimamente tem
crescido o avanço do ódio e a luta contra os direitos das pessoas lgbtts, tendo
como carro chefe a bancada de religiosos na política e pastores midiáticos
vendedores de bugigangas milagrosas, decidi escrever esse artigo, até mesmo
como estratégia de desabafo, o que na psicanálise poderia ser chamado de
sublimação. Não são raras as vezes
que me deparo meditando e buscando entender: Porque tanta homofobia no meio
evangélico? Eu realmente questiono isso porque quando eu leio os evangelhos, os
ensinamento de Cristo e vejo seu exemplo, me esforço para ser um discípulo Seu.
E como um discípulo dele, eu procuro sempre me olhar com atenção para os
excluídos e com os que sofrem, assim como aprendi com o Mestre através das
Escrituras e do meu relacionamento pessoal com ele. A parábola do Bom
Samaritano apresentada por Jesus, é a que mais descortina a situação de desamor
que vivemos hoje com a Igreja de Cristo em relação aos gays no Brasil. Como na
parábola, os sacerdotes e levitas passam de largo ao ouvir os gritos dos gays
quando precisam, e mais do que isso, os acarretam com mais sofrimentos. Então
aparece outro em cena, o Bom Samaritano, alguém que não era considerado pelos
religiosos como um bom religioso, e ele ajuda o ferido, necessitado e
injustiçado, sendo este Samaritano, figura de alguém que ama o seu próximo, ao
contrário dos sacerdotes e levita ocupados com suas próprias mesquinharias. O discurso evangélico
sobre os gays não muda, é sempre a mesma hipocrisia velada: Amamos os gays, MAS
não aceitamos a prática do homossexualismo – termo médico referente à doença já
abolido pela medicina e usado ainda pelos “fariseus”. Continuam dizendo:
“Amamos os gays, assim como também amamos os assassinos, os ladrões, os
estupradores, os pedófilos, etc. Desculpe, o dito amor está muito distante de
ser verdadeiro, ao comparar com criminosos: é como se fosse um amor de segunda
classe: “com um amor amo minha mãe, família, igreja e amigos, com outro amo os
assassinos, ladrões, pedófilos e gays”. Enquanto afirmam: “amamos os gays”,
pastores midiáticos famosos conclamam multidões para “baixar o porrete em cima
dos gays, para esses caras aprender” (Sr Silas Malafala) em plena rede de TV
nacional. Enquanto dizem: “amamos os gays, dizem que tem o direito de xingá-los
de bichas, veados, imorais, promíscuos, pedófilos, aliciadores de menores,
traficantes e de bater nos gays ou até matar sem receber pena aumentada por
discriminação. Tais “evangélicos” dizem que amam, mas usam o ódio contra os
homossexuais como pretexto (evangélico vota em evangélico) para eleger
candidatos a fim de evitar que um grupo tenha direito de ter seus direitos de
cidadão assegurados no seu país. Diante de tantos motivos
para indignar qualquer “pessoa de bem” desse país contra essa “igreja”
“amorosa”, tentei elencar alguns fatores sociais que talvez pudessem explicar
porque o Brasil, mesmo sendo considerado o país mais cristão do mundo, o país é
campeão em matar gays e lgbtt no mundo; à frente inclusive dos países
muçulmanos que tem leis para matar gays e mulheres em praça publica. Não só
isso, mas por que o ódio e a violência na população brasileira contra os gays e
lgbtts, não tem diminuído, mesmo com a ascensão econômica dos últimos anos, a
qual colocou o Brasil em 6° lugar no ranking dos países mais ricos do mundo? Primeiro faz-se
necessário lembrar que historicamente o Brasil é um país de tradição católica,
desde a sua colonização. Fato que poderia nos indicar uma forte tendência moral
e ética religiosa no povo, mas sabemos que não é assim. Pois por mais que o
Brasil seja o maior país católico do mundo, a corrupção, a prostituição, a
pobreza e outras mazelas sociais ainda estão presentes no país. Dentro desse contexto,
nasce outro fenômeno religioso no país: o surgimento do movimento protestante.
Que poderia se dividir em três grupos, em três tempos distintos. Inicialmente
vê-se o protestantismo das igrejas históricas com presença maciça de
missionários vindos do exterior. Depois o crescimento espantoso dos
pentecostais, principalmente nas classes mais baixas, e por último, o
surgimento dos neopentecostais nos últimos 30 anos, com as mega-churchs que
arrastam as massas através da mídia. Segundo estimativas do
IBGE com a Fundação Getulio Vargas, até 2009 a população evangélica
no Brasil era de 20,2 %. Estimativas da SEPAL (Superintendência de Evangelização
para a America Latina) afirma um numero maior: um pouco mais de 30%. A
estimativa de crescimento da fé evangélica é de 50% para a próxima década. A
maioria dessa população são novos membros advindos do catolicismo, que aderem à
nova religião por promessas melhores que as da religião anterior: ao invés de
vida humilde na terra e um gozo na eternidade pregado pelos católicos em suas
missas de tom fúnebre, os evangélicos, em seus “shows de fé” inundados pela
teologia da prosperidade, pregam a sedutora teologia da prosperidade, com
promessas de uma vida de gozo, dinheiro e felicidade na terra, onde a
eternidade encontra pouco espaço ou nenhum para ser pregado. Tendo em vista o
crescimento dos evangélicos e ao mesmo tempo do retrocesso nas conquistas para
garantia de direitos aos homossexuais, encontro alguns fatores pelo qual
considero que favorece a homofobia cristã evangélica de crescer: O primeiro fator que
favorece a homofobia cristã evangélica é que em seus cultos, o principal a ser
anunciado não são os valores. O que mais é destacado são as “conquistas”, os
“milagres”, as “bênçãos”, os carros e casas novos, as “curas”, e na grande
maioria das vezes não se vêem ser pregados valores como amor, bondade,
tolerância, misericórdia, altruísmo, justiça. Um dos motivos para isso é que
para receber as “bênçãos” de Deus, o fiel não precisa atentar para seu
comportamento ético, precisa apenas dar seu dízimo sagrado, entregar ofertas
com altos financeiros, como por exemplo, o valor do aluguel de sua casa, e
comprar livros e CDs de pastores “ungidos” que passam em qualquer operadora de
cartão de crédito, inclusive os cartões gospel’s e das “igrejas” com selo Visa
e Mastercad. Além de não se pregar
ensinos que valorizam o ser humano, um segundo fator constatado por pesquisas,
que poderia explicar a intolerância e violência por parte de evangélicos contra
os gays é que os evangélicos fazem parte em sua maioria de outro grupo onde
ocorre maior numero de atitudes preconceituosas contra lgbtts: o grupo que
apresenta menor índice de escolaridade. Esses foram os resultados encontrados
na pesquisa realidade pela Fundação Perseu Abramo, coordenada pelo professor da
Universidade de São Paulo (USP) Gustavo Venturi, que intrevistou 2000 pessoas
em todo Brasil em mais de 150 cidades. A pesquisa mostrou que quanto mais anos
de estudo, menos homofobia, ou seja, enquanto entre os que nunca frequentaram a
escola o índice de homofóbicos é 52%, no nível superior é apenas 10%. É triste constatar que a
união de religiões fundamentalistas que interpretam livros sagrados de maneira
literal (“ao pé da letra”) junto com uma população com poucos recursos
educacionais forma a simbiose perfeita para a proliferação da homofobia e de atrocidades
feitas em nome de Deus. É muito comum você entrar em uma igreja evangélica e
ouvir um sermão com interpretações distorcidas, baseadas em textos isolados,
sem contextualização do texto lido e bom uso da teologia e hermenêutica –
ciência de interpretação bíblica – além de uso de traduções errôneas de
palavras bíblicas dos originais como a NVI e Bíblia na Linguagem de Hoje. Essa constatação poderia
levarmos nos levar à hipótese de que os evangélicos estariam apenas
reproduzindo as opiniões preconceituosas e o senso comum já circulante em seu
próprio meio social. Todavia, não podemos
associar que essas mazelas sociais promovem a homofobia. Mas constatamos que
essa doença chamada homofobia alimenta-se de pouca educação, e pouco acesso à
cultura, da mesma forma que gripes e infecções acometem mais facilmente pessoas
fragilizadas por acesso restrito a recursos sanitários, má alimentação e
hábitos de higiene negligentes. O terceiro fator que propaga a homofobia cristã
evangélica, e que talvez seja o mais influente: São os pastores midiáticos
(oportunistas) e as bancadas religiosas no Senado e no Congresso, os quais
oferecem um banquete de acusações como os de “fariseus aos pecadores”, cozido
no molho do sangue das vítimas lgbtt’s brasileiras. Estes fazem uso das
televisões e das rádios de concessão pública, para arrebanhar milhões de fiéis
em concentrações religiosas, verdadeiros currais eleitoreiros, recolher ofertas
altíssimas, vender milhares de cds, livros, Bíblias com estudos e
toda quinquilharia gospel comerciável possível com preços abusivos. Se usar de
má fé ao pregar uma teologia da prosperidade que abusa do bolso e da mente das
pessoas já não bastasse, tais líderes religiosos se lançam na mídia como heróis
e protetores da igreja evangélica brasileira. Se intitulam bispos, apóstolos,
anciãos, pastores presidentes, encarregados de protegerem a igreja das
contaminações do mundo e do diabo. O que na verdade os tais
líderes religiosos televisivos fazem não é pregar o evangelho à todos, mas sim,
elegerem seus candidatos “ungidos” e “honestos” na maioria das vezes pop stars
Pastores e Cantores e controlar rigorosamente os votos do curral evangélico
para fazer politicagem suja com trocas de favores ilícitos e assim restringir o
direito da maioria dos cidadãos brasileiros de poderem seguir a orientação
sexual que sentirem vontade. Esses pastores da morte,
concentram seus esforços para barrar todo e qualquer tipo de projeto de lei que
tente assegurar o casamento igualitário para gays, a saúde (campanha contra a
AIDS para a população lgbtt) a vida, PLC 122 que pune crimes de violência
física e moral por motivação de ódio contra homossexuais – a qual foi
apelidada maldosamente de mordaça gay pelo Sr. Silas Maldafala, barram o ensino
à tolerância à diversidade de orientação sexual nas escolas (apelidado de kit
gay) além de incentivar publicamente ao ódio contra lgbtts ao rotular essa
população como imorais e classificá-la ao lado de ladrões, prostitutas, pedófilos,
pederastas, zoófilos, traficantes entre outras coisas, quando não conclama os
povo a “baixar o porrete em cima dos gays” (Sr. Silas Maldafala). Dessa forma, tais líderes
com super poderes (poderes políticos e religiosos) querem impor uma verdadeira
ditadura aos que não professam qualquer identificação com seus pensamentos
mesquinhos, desumanos e preconceituosos. Não respeitam a laicidade do Estado e
os direitos dos que não são evangélicos. Eles querem que todos sejam
heterossexuais, para irem todos para o céu, mesmo que a maioria da população
não queira ser evangélica, ou ir para um céu preconceituoso, onde não entra
quem não é evangélico. Fica de fora até mesmo alguns evangélicos, se eles forem
gays, lesbicas, transexuais ou transgênero. Esses líderes, que exercem uma liderança marcadamente
autoritária, não abrem espaço para o diálogo para os cristãos que não concordam
com a teologia da homofobia cristã evangélico, mas impõe seu pensamento com mão
de ferro, excluindo qualquer um de sua comunidade ou do paraíso futuro que
questione o fator que parece ter sido transformado no fator principal que
diferencia quem é evangélico de quem não é: o fato de aceitar ou não que ser
gay é abominação e digno de toda rogação de praga, pedra e condenação, tanto
nessa vida quanto na futura. Fazendo isso, julgam como se juízes fossem. Além disso, ao querer proibir a união estável entre pessoas do mesmo sexo e do
casamento civil e outras leis que protegem os direitos constitucionais dos
LGBT’s brasileiros, suas ações anti-democráticas tem objetivo de obrigar
LGBT’s a viverem na heteronormatividade, tirando assim o livre arbítrio das
pessoas, algo que nem o próprio Deus não faz. Essas ações parecem revelar as
mesmas intenções da Antiga Santa Inquisição Católica: quem não “engole
cegamente toda a verdade cristã católica, é perseguido, morto, e o mais
importante: tem seus bens materiais roubados pela Linda Igreja”. Essa nova
versão da Inquisição, poder-se-ia muito bem ser batizada de “Nova Inquisição
Evangélica”. Dessa vez, implantada não por papas medievais, mas pela
“moderna” “bancada evangélica”, que querem se utilizar dos recursos do Estado
para fazer sua evangelização e transformar o Estado num Instrumento de
Salvação Compulsória, garantindo assim que todos os brasileiros tenham a
“salvação” da alma “melhor assegurada” – longe dos gays. Esses “pregadores da
DesGraça” enchem a boca para falar do fim do mundo e de como é a estratégia do
demônio para dominar o mundo e a resposta é simples: enchendo a terra de gays,
aos quais destruiriam as famílias, por acabar com a reprodução de pessoas.
Apesar de ser ridículo, muitos acreditam nessa fábula. Tudo teria sido um plano
arquitetado pelo próprio Satanás articulado nas profundezas do inferno para
colocar um anti-cristo gay no controle do universo para desafiar a Deus e à
Igreja. Pois bem, apesar de
alguns não se importar, muitos gays, lésbicas, travestis, transexuais e
transgêneros sofrem com a violência divulgada e propagada pela “igreja”. Acho
que a Igreja tem um lado maravilhoso de trazer coisas boas para essa terra. Mas
nem por isso, podemos deixar de denunciar os erros por ela cometidos. Assim
como Lutero, Calvino, Zwinglio e outros reformadores trouxeram luz para uma
Igreja mergulhada na escuridão há 500 anos. Hoje a Igreja hoje precisa olhar
mais uma vez para a cruz e ver o Amor de Deus que foi de se sacrificar em favor
do mundo e não em julgar o mundo, condená-lo, e lançá-lo no inferno. Pois para
isso, já existem os “fariseus” de plantão e a hora certa disso acontecer de fato
pertence a Deus. A Igreja tem uma obrigação ética de abordar o assunto,
repensar e agir efetivamente, levando em conta uma sociedade em momento de
transformação. Ao invés de cometer o erro de barrar a evolução da sociedade,
como fez ao barrar a ciência na Idade Média, deveria ser pioneira e
incentivá-la à maior tolerância, amor e bondade como fez a Reforma Protestante
ao criar o modelo de escolas e universidades que temos até hoje. Diferente do que dizem os
pregadores da desgraça, oportunistas de plantão, nenhum gay ou lésbica ou
transexual quer obrigar que as pessoas os aceitem como religiosamente correto,
mas quer ser aceito pela sociedade (não pela igreja) como um cidadão que tem
acesso aos mesmos direitos que qualquer outro: quer viver sem medo de ser morto
por ser gay, sem sofrer agressões físicas ou verbais por ser gay, ter acesso à
saúde, planos de saúde, acesso aos órgãos da justiça quando forem constituir
família, acesso à educação sem sofrer bullying durante toda a formação escolar,
enfim, não ter nenhum direito restrito pelo fato de ser gay, assim como ninguém
pode ter nenhum direito civil restringido no Brasil pelo fato de ser adepto
dessa ou daquela religião, ou mesmo de nenhuma. Acho que sou realista ao
pensar que isso demandará muito tempo para mudar. Mas certamente demandará mais
se ficarem todos de braços cruzados. O povo brasileiro em geral e também o curral religioso,
excluídos da política, cultura, educação, saúde e outros direitos, me lembra
muito aquela musica da abertura da novela global Rei do
Gado, onde mostravam os lindos pastos verdejantes preenchidos pelos rebanhos
bovinos que corriam desesperadamente numa só direção ao som da musica: “ooo
vida de gado, povo marcado, povo feliz”. Que esse rebanho de Deus, em algum
momento perceba que é necessário, acima de tudo respeitar o próximo – se não
conseguem simplesmente amar como Cristo ordenou. E isso implica em cada um
cuidar da sua própria salvação e não em obrigar os outros a aceitar as suas
opiniões, que muitas vezes caem em agressões verbais e físicas, ao invés de
demonstrações de amor e ternura como bem cabe a um cristão. Se querem salvar a
alma dos brasileiros, que sejam dando o exemplo de amar e respeitar as pessoas,
e não obrigando que elas sejam perfeitas, como elas se julgam ser, com atitudes
hipócritas como essas.
Manifesto contra a
“Homofobia Evangélica”
21 de fevereiro de 2012,
Belo Horizonte – MG
Fonte: Gospel+
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